Você já sentiu que não pertence? Que, de alguma forma, sua história sempre foi diferente da dos outros? Crescer em uma família considerada “disfuncional” pode nos fazer acreditar que estamos em desvantagem, mas e se eu te dissesse que isso é mais comum do que imaginamos?
Muitas mulheres cresceram em lares onde nunca foram prioridade. Desde pequenas, aprenderam a cuidar dos outros antes de si mesmas, a aceitar o que a vida oferece sem questionar. Não sonham, porque nunca as ensinaram a sonhar. Ou, quando sonham, não realizam, porque não sabem como. Isso cria um ciclo silencioso: a pele envelhece, o cabelo cai, o corpo se transforma, mas elas não se enxergam. Não porque não queiram, mas porque nunca aprenderam que poderiam.
Ao longo da minha vida atendendo pacientes na Clínica Martinez, percebi algo surpreendente: muitas mulheres carregam marcas invisíveis, que influenciaram a sua epigenética e que se refletem na pele, no cabelo, no corpo e na forma como enxergam a si mesmas e lutam para existir. Elas me procuram porque o cabelo caía, a pele envelhecida, sentiam-se sem energia e desconectadas de si mesmas. Muitas nunca se olharam de verdade e, de repente, percebiam que fazia tempo que não se viam no espelho. Aceitavam tudo porque, no fundo, não se sentiam importantes o suficiente para se priorizarem.
E quando as atendemos para entender como chegaram até ali, ouvimos histórias de dor, de autossabotagem, de esquecimento de si mesmas.
Para mim, essa abordagem é fundamental, porque muitas fazem tudo naquele momento, mas depois não continuam. Acabam voltando ao ciclo da despriorização e, tempos depois, sentem que gastaram dinheiro à toa. Mas eu não queria que elas se sentissem assim. Precisamos mudar esse ciclo. E se somos alguém que Deus colocou de alguma forma no caminho delas, temos a responsabilidade de ajudá-las a ajustar a rota — se elas desejarem. Podemos ser o GPS que as guia de volta para si mesmas.
Porque a questão não é apenas estética. Isso é apenas a ponta do iceberg. A verdadeira raiz está na forma como fomos criadas e no medo que nos ensinaram a carregar.
E então me pergunto: será que o disfuncional é, na verdade, o normal? E como ele pode influenciar a nossa vida?
A Janela do Desenvolvimento e o Poder da Epigenética
Desde o momento em que nascemos, somos moldadas pelo mundo ao nosso redor. Pais, cuidadores, professores e até a sociedade nos conduzem, não apenas com amor, mas com suas próprias histórias, medos e limitações. E, sem perceber, muitas vezes herdamos crenças que não são nossas, apenas absorvemos. Mas você já se perguntou até que ponto essas influências definem quem realmente somos?
Nos primeiros anos de vida, nosso cérebro está em uma janela de desenvolvimento extraordinária. É nesse período que conexões neurais essenciais são estabelecidas e padrões de comportamento começam a se formar. Isso significa que o ambiente em que crescemos, as palavras que ouvimos, os desafios que enfrentamos e as experiências que vivemos modelam nossa biologia e podem definir muito de nossas escolhas futuras.
Isso é epigenética em ação. A ciência já demonstrou que experiências de vida podem ativar ou silenciar genes ao longo do tempo. Assim, o medo, a insegurança ou as expectativas impostas por outros podem moldar nossa realidade de maneiras que sequer percebemos.
Minha Jornada: Do Medo à Superação
Nasci em uma família que chamam de disfuncional. Minha avó me pegou para criar quando eu tinha apenas dois meses de vida. Meu pai não constava na certidão de nascimento, e eu nunca o conheci até os 27 anos. Na escola, via as crianças chamarem seus pais de “papai” e “mamãe”, enquanto eu chamava minha avó de “vovó”. Ela fez o possível para suprir o amor e o cuidado que me faltavam, e, de sua maneira, conseguiu. Mas, no fundo, eu sabia que éramos diferentes. E nos sentimos diferentes.
Ainda assim, mesmo com essa diferença, quero dizer algo essencial: somos capazes de vencer o medo e lutar.
Minha avó se orgulhava das minhas notas e sempre me dizia que eu era capaz. Mas outras pessoas, ao me verem, diziam palavras agressivas, palavras duras que pareciam me condenar a um futuro de fracasso. Ouvi que eu não seria nada, que não chegaria a lugar nenhum. Mas eu segui.
Meu alicerce foi quando eu tinha apenas 14 anos. Minha avó faleceu. Foi então que Deus começou a tomar conta de mim de uma forma que nem sei explicar. Quando olho para trás, seria impossível estar aqui sem que Ele tivesse feito milagres diários na minha vida.
Pare e Reflita: Como o Medo Está Impactando Sua Vida?
Se você teve uma infância ou adolescência difícil, se veio de uma família disfuncional, quero te dizer algo muito importante: pare, não tenha medo.
- Procure a Deus, se você sentir isso no seu coração.
- Busque ajuda. Não tenha medo de identificar padrões que você repete, mesmo sem ter convivido diretamente com aqueles que os criaram.
- Observe suas atitudes inconscientes que te impedem de ser ou viver aquilo que você realmente merece.
A desconstrução e reconstrução acontecem todos os dias. Mas para isso, você precisa estar aberta ao processo. Se estiver presa a verdades absolutas, nunca conseguirá mudar. Afinal, não existem verdades absolutas – nem mesmo na medicina.
Hoje vejo pessoas que sempre tiveram seus pais darem conselhos a quem nunca teve, sem compreender a dor e o vazio que isso pode gerar. Muitas vezes escondemos nossas frustrações, porque a sociedade espera que digamos “está tudo bem”. Mas não precisamos fingir que está tudo bem quando não está. Isso não é vitimização – é reconhecer que precisamos cuidar das nossas emoções.
Isso não é para te deprimir, é para te elevar, para consertar a rota, para te dar forças no caminho. Porque um dia eu entendi que eu tinha o maior Pai do mundo: Deus. Mas claro, essa jornada não foi rápida nem fácil.
Desafie o Medo e Descubra Sua Verdadeira Essência
Pare de dar desculpas. Faça um exercício: anote todas as desculpas que você dá para não chegar aonde deseja. Depois, escreva possíveis soluções para cada uma delas. Dê mais de uma solução. Você verá que, no fundo, o que te impede não são as dificuldades, mas o medo de não ser aceita, de ser julgada.
Mas você já é aceita. Você é filha de Deus. E é isso que eu repito para mim todos os dias.
Nosso medo nos adoece, nos expõe a relacionamentos tóxicos e nos faz viver muito abaixo do que merecemos. E que vida é essa que merecemos? É aquela que você sonha para si mesma.
Se você não sonha com algo diferente do que vive hoje, quero te convidar a, nas próximas quatro semanas, ir a lugares que você sente que “não são para você”. Experimente viver algo novo, mas sozinha. Veja como se sente. Esse é o primeiro passo para mudar sua realidade.
Saia do Instagram. As redes sociais não mudam vidas – apenas distorcem a percepção da realidade e mexem com suas emoções. Não existe nada fácil, nada que aconteça de uma hora para outra. Somos seres humanos. Um bebê demora nove meses para ser gerado, quase um ano para aprender a andar. E nós queremos mudar uma vida inteira em poucos meses. Essa expectativa nos frustra. Então, pare de se iludir.
Pedimos a Deus milagres, mas Ele pede que nos esforcemos.
Mesmo em uma família disfuncional, você é funcional! Descubra quem você é, o que deseja e trabalhe todos os dias para mudar os hábitos ruins que foram impostos a você. Comece pelas palavras – elas têm poder. Profetize apenas coisas boas. Não reclame.
Você pode, sim, transformar sua história. O medo pode até existir, mas ele não pode definir quem você é.Com carinho,
Isabel Martinez
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