
Instituição incentiva a inclusão por meio de uma abordagem acessível, eficaz e acolhedora
Daniel Hernandes Ramos conheceu a Língua Brasileira de Sinais (Libras) ainda na adolescência, durante o ensino fundamental. Na sétima série, dividia a sala com dois colegas surdos e um intérprete. O contato com a linguagem visual despertou um fascínio imediato, que anos mais tarde o levaria a se matricular em um curso de Libras e, posteriormente, fundar a instituição Quero Libras.
“Eu me lembro da primeira vez em que vi aquelas mãos se movimentando, criando frases, expressando sentimentos… Aquilo me encantou profundamente. Era como descobrir um novo mundo acontecendo ali, silencioso, mas cheio de vida”, relembra Ramos. Apesar do encantamento precoce, o aprendizado formal só veio na vida adulta, já casado e com filhos. “Quando comecei o curso, parecia que uma chama reacendia”, ressalta Ramos.
Em apenas três meses, Daniel já conseguia se comunicar com fluência. A disciplina e o desejo antigo de se conectar com a comunidade surda impulsionaram seu progresso. “Entendi rápido que, para evoluir, eu precisaria vencer o medo e a vergonha. Procurei amizades, participei de encontros, conversei com surdos sempre que podia. Essa decisão transformou tudo”.
Após concluir o curso, começou a compartilhar vídeos com frases em Libras nas redes sociais. A repercussão foi imediata. “Muita gente começou a pedir que eu ensinasse. Mas eu nunca tinha dado aula. Foi minha esposa quem me deu o empurrão que faltava. Ela acreditou em mim.” Na mesma época, lia o livro “Pai Rico, Pai Pobre”, de Robert T. Kiyosaki, que o inspirou a enfrentar o medo e dar o primeiro passo.
Conhecimento que muda realidades
A primeira turma surgiu como um experimento: aulas online e gratuitas. Mesmo inseguro, Daniel seguiu em frente. O curso, inicialmente previsto para seis meses, durou um ano. “Pedi que cada aluno gravasse um vídeo interpretando uma música em Libras. Quando assisti aos vídeos, senti como se uma porta se abrisse dentro da minha mente. Ali entendi que eu podia transformar realidades através da educação”.
A experiência consolidou sua vocação. Daniel passou a ensinar de forma voluntária e profissional, e assim nasceu a Quero Libras, voltada ao ensino da língua de sinais. No primeiro ano, porém, a pandemia da covid-19 interrompeu as aulas presenciais. A instituição precisou migrar para o formato digital, mas muitos alunos desistiram. “Foi um período muito duro, e infelizmente tive que fechar a instituição ainda no início da sua história. Mas os sonhos de verdade não morrem. Eles apenas esperam o tempo certo”, pontua.
Com a sociedade mais adaptada ao digital no pós-pandemia, a Quero Libras voltou ao mercado com novo propósito. “Não apenas como fonte de renda, mas como missão: tornar a Libras mais conhecida, aproximar surdos e ouvintes e promover inclusão de forma simples, eficiente e acolhedora.” A instituição já formou diversos alunos, muitos dos quais utilizam Libras no cotidiano, no trabalho, na igreja e na vida social. “A comunidade surda é um universo totalmente diferente do nosso, e aquilo que nos conecta é justamente a Libras, uma língua rica, viva e cheia de significado”, conclui.