Vivemos em um tempo em que a palavra burnout deixou de se restringir ao ambiente corporativo e tornou-se, de forma alarmante, uma descrição de toda a vida cotidiana. Não é apenas o trabalhador exausto diante de planilhas infindáveis ou de reuniões virtuais que nunca terminam. É a mente comum, a existência ordinária, que agora se encontra em frangalhos. O cansaço não está mais contido em um escritório — ele se espalhou para as telas que consumimos compulsivamente, para os relacionamentos frágeis e utilitários, para as convivências que drenam energia em vez de nutri-la.
Burnout tem fases. Primeiro, a euforia produtiva: o sujeito acredita que pode fazer tudo, conectar-se a tudo, opinar sobre tudo. É o otimismo ingênuo de quem confunde movimento com progresso. Depois, a exaustão: cada tarefa parece um fardo, cada mensagem exige mais do que se pode oferecer. E, por fim, a apatia: um desligamento emocional em que nada mais importa de fato. Não é coincidência que esse mesmo ciclo se repita na vida social contemporânea. Consumimos conteúdos, interações e amores com o mesmo entusiasmo inicial; logo depois, vem a saturação, seguida pelo desinteresse e, finalmente, pelo vazio.
O que se desenha é um martírio coletivo. Um sofrimento difuso, quase silencioso, que se normaliza na melancolia das rotinas. O sujeito contemporâneo tenta escapar dessa fadiga mimetizando os outros — sendo o que não é, desejando o que não deseja, renunciando a princípios e valores próprios em nome de uma aceitação impessoal. O problema é que quanto mais ele se anula, mais se torna vulnerável às prescrições do mercado e da moda. Somos o que consumimos, e o que consumimos é aquilo que nos mandam consumir. Essa lógica nos prende a um ciclo interminável de frustração, porque a promessa de gratificação nunca é cumprida — sempre adiada para a próxima compra, para o próximo clique, para a próxima curtida.
Não é à toa que a vida parece insuportavelmente cansativa. Quando a experiência humana se resume à busca por validação externa, ela perde o enraizamento no propósito. Não há mais espaço para o amor verdadeiro, que por definição é único, particular e recíproco. No lugar dele, há uma necessidade desesperada de ser amado por todos, o que na prática significa não ser amado por ninguém. É o triunfo da imagem sobre a substância, da visibilidade sobre o significado.