Acabei de voltar da Coreia e descobri o que ninguém conta sobre o glow delas
Acabamos de chegar da Coreia e trouxemos na mala algo bem mais valioso do que cosméticos (embora confesse que quase faltou espaço para eles). Trouxemos uma verdade que muita gente não quer ouvir: a pele que sonhamos não nasce de um produto milagroso — nasce da constância que quase nunca temos.
Fomos atrás do tal “glow coreano”, aquele desejo secreto de sair sem maquiagem e parecer que a pele acende sozinha. E a primeira impressão é arrebatadora: lojas imensas, cremes hipnotizantes, embalagens perfeitas, ingredientes de altíssima qualidade. Sim — a matéria-prima é diferente. E isso não é mito.
Um estudo recente publicado no Journal of the Korean Applied Science and Technology analisou projetos nacionais de pesquisa de 2019 a 2023 e mostrou que a Coreia mantém um volume robusto e sistemático de P&D em cosméticos, com forte foco em inovação e desenvolvimento de novos ingredientes (Lee & Kim, 2024). Isso explica a rapidez com que novos ativos chegam ao mercado — e a altíssima qualidade.
Mas… (e aqui pedimos licença para o parêntese sincero) o segredo não está só no que eles passam na pele.
Passamos dias vivendo a rotina deles, fora dos pontos turísticos. Entre uma reunião e outra, almoçávamos e jantávamos com coreanos na vida real — não no cenário montado para turista ver. E foi aí que tudo fez sentido.
A comida é impressionantemente saudável. Refrigerante? Não vimos. Suco? Raríssimo. E, quando aparecia, era quase irreconhecível para quem está acostumado com bebidas “industrialmente doces”.
As refeições vinham com sopa quente, muitos vegetais, legumes frescos, um peixe ou carne de preparo simples. Comemos até raiz de flor de lótus — que, aliás, adoramos. Hidratam-se majoritariamente pela refeição: o copo de água é minúsculo, quase simbólico.
E algo que mexeu muito com a gente: acabou de comer? Levanta. Vai viver. Ninguém fica beliscando na mesa. E isso é exatamente o que recomendamos quando falamos de compulsão, ansiedade e emagrecimento.
A cultura deles é direta. E silenciosa — um silêncio produtivo, quase terapêutico. Visitamos empresas onde todos trabalhavam de meia e chinelo, numa paz que multiplica foco. E aqui há ciência sólida sustentando isso: o artigo Quiet environments and the intentional practice of silence (Asselineau et al., 2024), publicado em Industrial and Organizational Psychology, mostra que ambientes silenciosos reduzem sobrecarga sensorial, aumentam reflexão e melhoram processos cognitivos.
É ciência, não romantização.
Mas voltemos ao ponto: o glow.
Em um país onde ninguém belisca depois do almoço, onde comida real domina, onde há movimento constante, silêncio, rotina e coerência… você realmente acha que o brilho da pele é só do cosmético?
É epigenética pura.
E aqui entra outra evidência importante: uma revisão publicada em Nutrients (Nutrients 2023, 15, 2842) mostra que dietas ricas em vegetais, frutas, leguminosas e fontes naturais de antioxidantes modulam processos inflamatórios, reduzem estresse oxidativo e influenciam diretamente a saúde da pele. O artigo destaca ainda que padrões alimentares saudáveis influenciam o microbioma e, por consequência, condições como acne, dermatites e envelhecimento cutâneo.
Ou seja: a forma como você vive muda a forma como sua pele envelhece.
E sabe o que mais chocou?
Ela não só tem acesso aos produtos — ela usa. Religiosamente. Sem preguiça. Sem drama. Sem aquela frase clássica: “Doutora, não me passa muita coisa que não tenho tempo.”
Para elas, skincare não é evento.
É hábito.
É rotina.
É autocuidado não-negociável.
As lojas de rotina facial abrem das 10h às 22h. Vivem cheias — não de turistas, mas de coreanos comprando máscara facial como quem compra pão.
E sim: elas usam maquiagem.
E é maravilhosa.
A verdade? Tem tanta coisa dessa viagem que não cabe aqui. Mas deixamos esta primeira provocação:
A pele dos sonhos não vem do produto mais caro, mas da vida que você constrói todos os dias — prato por prato, hábito por hábito, creme por creme.
Até a próxima, e que hoje você olhe para sua rotina com honestidade: o que você come, como você acalma sua mente, e se realmente cuida da sua pele… ou só deseja que ela mude sozinha.
Porque constância não se compra.
Mas transforma tudo.
E, na próxima coluna, contamos o que mais ninguém conta: quais cremes, quais ingredientes e como a rotina coreana realmente funciona no dia a dia. Prepare-se: essa parte é ainda melhor.
Referências científicas citadas na coluna
Lee, D.; Kim, K. (2024).
Analysis of Cosmetics Research and Development Trends based on National Research and Development Projects.
Journal of the Korean Applied Science and Technology.
Asselineau, A., et al. (2024).
Quiet environments and the intentional practice of silence: Toward a new perspective in the analysis of silence in organizations.
Industrial and Organizational Psychology
Nutrients 2023, 15, 2842.
Impact of a Plant-Based Diet on Skin Health and Inflammatory Skin Diseases.
Assinatura da Coluna
Dra. Isabel Martinez (CRM-SP 115398)
Médica, fundadora da Climex Academy e criadora do conceito Climex®️, que propõe uma nova forma de compreender o climatério e a menopausa com base em ciência, biologia feminina e propósito.
CEO | Climex®️ | Clínica Martinez®️
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